Parque e Palácio de Monserrate


Palácio de Monserrate (Fotografia da autora)

Situado em plena Serra de Sintra, o Parque de Monserrate é um local único cheio de recantos, cascatas, árvores exóticas, lagos e pontos de vistas, com fortes inspirações inglesas, mouriscas e portuguesas.

O seu proprietário conhecido mais antigo, na altura do reinado de D. Manuel I, era o Hospital Real e Todos-os-Santos e tinha o nome de Quinta da Boa Vista. Provavelmente a sua ocupação humana é muito mais antiga, visto ter um sistema de rega com origens mouriscas, ainda existente, com a captação de água através de minas na encosta da Serra que é encaminhada para as zonas de cultivo.
Em 1540, um padre chamado Gaspar Preto, no regresso de um peregrinação à Abadia Beneditina de Monserrate, nos Pirinéus na Catalunha, construiu uma Capela no local onde atualmente se situa o Palácio. A escolha do local foi bastante influenciada pois Mont serrat em catalão significa "montes em forma de serra". Na capela foi colocada uma imagem da Virgem em alabastro, que veio de Roma, perdendo-se no terramoto de 1755.
Em 1601 o Hospital arrendou a Quinta à família Melo e Castro que a adquiriu em 1718. Este novo proprietário, Caetano de Melo e Castro, tinha sido Vice-rei da Índia.
Depois da sua morte, visto que a família continuava em Goa, Monserrate foi arrendada formalmente em 1790 a Gerard de Visme. No contrato de arrendamento estava estipulada a construção de uma nova casa na propriedade tendo iniciado de imediato as obras.
Gravura do Palácio de Monserrate de 1793 (Fonte: base de dados da Parques de Sintra - Monte da Lua, S.A.)

Gerard de Visme era um comerciante inglês de origem francesa, que veio para Portugal com cerca de vinte anos. Era sócio da firma Purry, Mellish e Devisme, que se dedicava ao comércio de diamantes e madeiras exóticas vindas do Brasil. Das suas realizações destacam-se a sua casa em São Domingos de Benfica, que é a primeira casa neoclássica construída em Portugal e o Castelo Neogótico de Monserrate.
Contudo, dois anos depois do início das obras, foi definitivamente para Inglaterra, subarrendando a propriedade a William Beckford em Julho de 1794. Este inquilino executou também obras nesta propriedade de jardinagem, como o desvio da ribeira para fazer uma cascata e o arco de Vathek, junto à cascata.
Em 1808 Beckford desistiu do arrendamento, devido, provavelmente, às invasões francesas no final do ano de 1807 e com a fuga da família Real para o Brasil. Depois disto a propriedade entrou em grande decadência.

Gravura do Palácio de Monserrate de 1852 (Fonte: base de dados da Parques de Sintra - Monte da Lua, S.A)

Em 1841 chegou a Portugal um jovem inglês muito rico, comerciante de tecidos, de 24 anos, chamado Francis Cook(1817-1901). Nutria uma grande paixão pela arte, tendo uma vasta coleção de arte enciclopédica, a Cook's Colletion, onde se destaca a sua coleção de pintura espalhada por vários museus ingleses.
Em Portugal casou-se com Emily Lucas, filha de um sócio da firma de comerciantes ingleses estabelecidos em Lisboa.
O casal, nos dois primeiros anos de casados, passaram os verões em Portugal, na Quinta de São Bento, perto de Monserrate, e descobriram o Palácio abandonado, sem telhado e sem janelas. Arrendaram a propriedade, e passado alguns anos, em 1856, chegaram a compra-la. Depois disto Cook começou então a obra do Palácio e dos Jardins que ainda hoje subsistem.

Família Cook e amigos em Monserrate (Fonte: http://amigosdemonserrate.com)

Monserrate foi uma propriedade dos Cook durante três gerações. O Crash da bolsa de Nova Iorque de 1929, levaram a que os netos de Francis Cook tivessem de vender Monserrate, a Raul Sáragga, em 1946, que leiloou o recheio do Palácio e tentou lotear os 143 hectares, sendo impedido pela Câmara Municipal de Sintra. A Fazenda Nacional acabou por adquirir a propriedade, a tapada e o palácio vazio, em 1949.
Em 2000 passa a estar sobre a tutela da Empresa Parques de Sintra - Monte da Lua S.A.
O Palácio de Monserrate foi alvo de uma intervenção de restauro que terminou em 2007 com a sua abertura ao público. Este projeto ganhou o Prémio de Turismo de Portugal de 2010, na categoria de melhor projeto de requalificação (sector público).
O Jardim de Monserrate está aos poucos a ser restaurado, tendo sido inaugurado recentemente o Jardim do México a 23 de Setembro de 2010 e o Roseiral a 29 de Março de 2011, com a presença do Príncipe de Gales e a Duquesa da Cornualha. As intervenções no Jardim estão a cargo do Arquitecto Paisagista Gerald Luckhurst.

Jardim do México de Monserrate (Fotografia da autora)

O Palácio de Monserrate é constituído por um corpo central de base quadrada com dois pisos e duas alas laterais simétricas tipicamente neopalladianas, que terminam em duas torres circulares, que lhe conferem um carácter neogótico.
Para a construção da nova casa Francis trouxe a Sintra o arquitecto James Thomas Knowles(1831-1908) , tendo as obras decorrido entre 1863 e 1865. Esta casa foi projetada para ser visitada duas vezes por ano em períodos de cerca de um mês, sendo utilizada como local de reunião de amigos e familiares, para festas e passeios no jardim e na Serra, não se tratando assim de uma casa de campo, mas uma casa de "férias". O Palácio também serviria para albergar parte da coleção de arte de Francis Cook. A obra de James Thomas reúne o estilo gótico italiano, o exotismo dos elementos orientais e elementos portugueses. Toda a casa é muito decorada, com paredes cheias de pormenores, destacando-se a Sala da Música com a cúpula revestida com elementos decorativos em madeira, quer garantem uma uniforme distribuição dos sons contribuindo para ter boa acústica, e a biblioteca, com as paredes repletas de estantes.

Corredor central do Palácio de Monserrate (Fonte: http://amigosdemonserrate.com)

Biblioteca do Palácio de Monserrate (Fonte: http://amigosdemonserrate.com)

Sala da Música Palácio de Monserrate (Fonte: http://amigosdemonserrate.com)

O Jardim de Monserrate tem uma matriz inglesa, à semelhança da casa, muito diferente dos jardins barrocos então em moda em Portugal. Gerard tinha um grande interesse pelas plantas exóticas, fazendo um verdadeiro jardim botânico neste local. O mais fascinante é a combinação da matriz inglesa com motivos decorativos próprios dos Jardins Portugueses, adaptando o modelo inglês ao país. Os jardins desta propriedade foram valorizados com a adições artísticas e plantações ornamentais. Com a interpretação de gravuras terá havido nestes Jardins um obelisco, um arco ramano, uma cocheira neoclássica, uma torre gótica. Ainda se verifica a existência de um eremitério, cuja fachada principal é semelhante à da Capela que Gaspar Preto edificou na propriedade, tendo ainda sido reaproveitadas as cantarias que sobreviveram ao terramoto de 1755. Esta construção, hoje designada por Capela, foi transformada em ruína no tempo dos Cook.

Capela de Monserrate (Fotografias da autora)

O Jardim de Monserrate foi sendo lentamente construído entre 1863 e 1929, em consonância com o Palácio, seguindo o conceito do pitoresco, construindo diversos cenário, como a cascata, o Vale dos Fetos, a Capela e o Relvado. Surgiram numerosas vistas, em locais normalmente assinalados com bancos de pedra, para o exterior da propriedade como também para pontos de interesse do seu interior, sendo o Palácio o local para onde converge a maioria das vistas. Estes pontos de vista tornam os passeios dinâmicos.

Vista para o Palácio (Fotografias da autora)

O clima de Sintra, para além de permitir a plantação de espécies típicas do Norte da Europa, permite também a plantação de espécies de climas mais quentes. Por isso, no Jardim da Monserrate foram criadas zonas com plantas provenientes de determinados países, como o México, a Austrália, a China e o Japão, aproveitando os diversos microclimas existentes nesta área. O Relvado de Monserrate foi o primeiro em Portugal a ter um sistema de rega que permitisse mante-lo verde durante todo o ano. O vale dos Fetos foi construído no vale entre a cascata e a capela por reunir boas condições de luminosidade e humidade.

Feteira de Monserrate (Fotografia da autora)

Cascata de Monserrate ( Fotografia da autora)

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