Parabéns SOUTO!!

O discurso de Souto de Moura ao receber o Pritzker 2011.
em Washington no Andrew W. Mellon Auditorium

Exmo. Sr. Presidente dos EUA, Presidente do Júri, elementos do Júri, meus Amigos, minhas Senhoras e meus Senhores,

Só quando recebi o convite dizendo “Eduardo Souto de Moura of Portugal” é que acreditei que tinha ganho o Pritzker 2011. Não posso esconder que fiquei feliz, por mim, pela minha família, colaboradores, amigos e clientes. Em nome de todos, os meus sinceros agradecimentos.

Aprendi a desenhar na Escola Italiana do Porto, cidade onde nasci, e no liceu decidi ser arquitecto. Não é que tivesse alguma paixão especial pela disciplina, mas na crise agnóstica dos 15 anos, duvidei se Deus devia ter descansado ao 7º dia. É que, pensando bem, ficou por fazer uma geografia como a de Delfos, a Acrópole para receber o Parténon ou secar um pântano no Illinois, onde a Farnsworth pudesse ficar.

Em 1975 depois da Revolução dos Cravos, comecei a trabalhar com o Arqº Siza Vieira. Não só pela arquitectura, mas sobretudo pela pessoa em si, foi uma experiência excepcional que ainda hoje continuo a fazer com o mesmo prazer. Saí do seu escritório nos anos 80, para ser arquitecto. Foi difícil começar, mas usar a sua “linguagem” parecia-me uma traição e mesmo que o quisesse, não o conseguia fazer, por pudor.

Depois da Revolução, e restabelecida a Democracia, abriu-se a oportunidade de redesenhar um país, onde faltavam escolas, hospitais, outros equipamentos, e sobretudo meio milhão de casas. Não era certamente o Pós-Modernismo, na altura em voga, que nos poderia resolver a questão. Construir meio milhão de casas, com frontões e colunas seria uma perda de energia, pois a ditadura já o tinha ensaiado. O Pós-Modernismo chegou a Portugal, sem quase termos passado pelo Movimento Moderno. É essa a ironia do nosso destino: “antes de o ser já o éramos”.

Do que precisávamos era de uma linguagem clara, simples e pragmática para reconstruir um país, uma cultura, e ninguém melhor que o proibido Movimento Moderno poderia responder a esse desafio. Não era só um problema ideológico, mas sobretudo de coerência entre material, sistema construtivo e linguagem. Se “arquitectura é a vontade de uma época traduzida num espaço”, Mies van der Rohe abriu-nos as portas na redefinição da disciplina tão massacrada até aí, pela linguística, semiótica, sociologia e outras ciências afins. O importante é que a arquitectura fosse “construção”, assim com urgência, nos pedia o país.

Com 10 séculos de História, Portugal encontra-se hoje numa grande crise social e económica, como já aconteceu em vários períodos anteriores. Hoje, como ontem, a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar. Como dizia Paul Claudel: “Le Portugal est un pays en voyage, de temps en temps il touche l’Europe”. Resta-nos a “mudança”, como quer dizer a palavra “crise” em grego. Resta-nos decifrar o significado dos dois caracteres chineses que compõem a palavra “crise”: o primeiro significa “perigo”, o segundo “oportunidade”. Em África e noutras economias emergentes não nos faltarão oportunidades, o futuro é já aí. “Trabalhar na transmutação, na transformação, na metamorfose é obra própria nossa.” (1)

Muito obrigado.

Eduardo Souto de Moura

(1) Herberto Helder, “O Corpo. O Luxo, A Obra”



Reacções inclusive do Souto de Moura quando soube da atribuição do Prémio:


Souto de Moura a propósito do Pritzker 2011

- "Quando recebi a chamada a dizer que eu seria laureado com o Pritzker, eu nem queria acreditar. Depois recebi a confirmação que era mesmo verdade, e então percebi a grande honra que é. O facto de ser a segunda vez que um arquitecto português é escolhido torna isto ainda mais importante”.

- “Um edifício em cujo interior as pessoas morrem de calor, por mais elegante que seja, é um fracasso. Não se pode aplaudir um edifício apenas porque é sustentável. Seria como aplaudi-lo porque se aguenta”.

- (a arquitectura)“Não é uma musa que me aparece. É um conjunto de factores que são aparentemente incompatíveis, estão num caos: o terreno, o orçamento, os clientes. E depois é um trabalho em que se vai tentar conciliar e ver quem ganha. É um combate».

- «Eu comparo o combate a um jogo japonês, o sumo (eu também sou robusto), a técnica não é derrubar o factor adverso, não é tentar impormo-nos a ele. Ele cai pela sua própria força”.

- «A arquitectura tem que ser lenta. Um bocado como a gastronomia, tem que ser em lume brando, se não queima ou fica cru por dentro. A arquitectura é um modo de vida, não é uma profissão, é uma decisão que nós tomamos de viver assim».

- “O meu sonho é acabar as obras que tenho por acabar em Portugal”.

- "Aconselho os jovens arquitectos a emigrar porque não vejo perspectivas de trabalho em Portugal. Há arquitectos a mais e, com o número de licenciados que vão saindo, as portas começam a fechar-se. Sendo realista e dando um conselho, aqui não vai ser possível fazer Arquitectura. Há muitos países que precisam de arquitectos, como o Brasil e a Suíça".

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